Contam os mais antigos, do Distrito Linha do Campo, Sete de Setembro, RS, havia um casal de jovens que mais do que noivos, eram amigos de infância, criados como irmãos numa pequena comunidade do interior, na região missioneira. Faziam tudo juntos, brincavam o dia todo de forma alegre, contagiante, voluntariosa, felizes, em paz, na cumplicidade de quem sonha e trabalha junto.

Entre os maiores divertimentos, do casal, a pureza de suas diversões, buscavam nos meses de inverno um trevo de quatro folhas, grande, que nasce muito nessa época do ano, principalmente num largo em uma baixada na Linha Um. Colhiam grande quantidade de uma flor lilás que é gerada pelos Trevos e a maciez das plantas garantia-lhes inúmeras brincadeiras. E o vestido da noiva teria pequenas flores lilás dando lembrança de seu recanto ao casório.

Mas... Porem... Em 1940, paralelo existia a 2ª Guerra Mundial, e o jovem teve de se apresentar como pracinha. Essa região das missões foi colonizada por europeus e os “pelos-duros” (miscigenação de índio com branco) tinham a preferência do exército. Não teve jeito o rapaz embarcou e foi ao encontro de sua morte, seu corpo nunca regressou, mas o dever foi cumprido por honra do país e tristeza de sua amada.

Os anos foram passando e toda vez que a moça cruzava no largo do vale suspirava que a saudade a sufocava. O vestido branco, com o tempo, amarelou e o brilho das flores só apagou quando o vestido se desfez. A Noiva continuava ajudando, a família, a comunidade durante os anos que se seguiram, não era mais a mesma, mas todos sabiam o que a incomodava. Seu olhar, seu rosto só tinha brilho quando as estrelas despontavam no firmamento. Ela sabia que tinha vivido um grande amor, o amor de uma vida!

Um dia seu corpo foi encontrado embaixo de uma pilha de feno, que havia desabado dentro do celeiro. No bolso de seu vestido um livro pequeno com flores e trevos de quatro folhas secos.

Hoje é comum se ver as pegadas sobre os trevos, que vem de repente e somem, só a trevos pisados e flores colhidas. Por isso, que logo que o braseiro do sol começa a esfriar, as estrelas acendem a pontear a noite, surge no passo ao largo da estrada uma mulher vestida de noiva, andando pelo mato, com um buque de flores de trevo na mão. Todos se assustam, não é de menos, os que a viram correram, nos meses de inverno isso é comum, na florada dos trevos ninguém passa pelo vale a pé depois do entardecer.

Mas vários são os relatos, das pessoas em suas horas de precisão na região tiveram o carinho da noiva. Mães nas dores do parto, agricultores e atletas que se acidentaram, idosos que se sentiram mal, tonteiam ou desmaiam. São acudidos e tem na companhia da noiva um ente que reza por eles. Única coisa que ouvem na despedida “Sua vida valeu a pena se você viveu um grande amor”.

E os casais de amigos, namorados ou noivos, que colherem flores ou procurar o trevo de quatro folhas se deparam mais íntimos, cumplices e descobrem o amor, a base para a união verdadeira.

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